Sem dúvida nenhuma as histórias da humanidade em geral e das inovações tecnológicas se confundem. Inúmeros exemplos podem ser citados: desde o primeiro pedaço de osso utilizado como alavanca (o que me lembra melancolicamente e poeticamente do excelente “2001 – Uma Odisséia no Espaço” do Kubrick) - que talvez tenha realmente sido o início da nossa história da evolução tecnológica -, até o nosso moderno mundo digital – que inclui todas as espécies de maquininhas, inclusive aquelas que nós mal conhecemos. Segundo sugere mesmo o filme supracitado, a humanidade só não veio a perecer por conta justamente da superioridade sobre os outros animais que a multiplicação da força gerada pelo uso da alavanca possibilitou. E quem há de dizer que as nossas maquininhas modernas não são alavancas culturais, sociais, financeiras, políticas, esportivas, artísticas etc.?
Entrando neste mérito, essas mesmas máquinas modernas subjugam alguns exemplares de “homo sapiens” como subjugava o primeiro osso-alavanca a outras espécies quando o primeiro proto-homem o manuseou. E é aí que essas máquinas servem como artefatos para a grande encrenca humana que tem sido a história de vencedores e perdedores que se conhece, ironicamente, desde a pré-história (um nomezinho já por si só fraquíssimo... mas isso é outra “história”).
Naturalmente, (quase) ninguém em sua sã consciência jamais seria contra o uso e desenvolvimento de novos “gadgets”, até porque todos podem reconhecer os benefícios que eles trazem mesmo às classes menos privilegiadas, como aqueles à saúde pública, por exemplo. Infelizmente, no entanto, a última palavra em tecnologia sempre está disponível para quem pode pagar por ela primeiro, naturalmente. E é atrás disso que correm, sempre um pouco ou muito atrasados, todos os projetos (governamentais ou não) de inclusão, agora digital.
O que me assusta um pouco, e espero que assuste a toda a humanidade em tempo hábil, é a pouca evolução humana que acompanha essa evolução tecnológica. Ao mesmo tempo que “blogamos” ou “orkutamos”, crianças morrem de fome na África, adolescentes dão mais valor à marca da roupa do que à verdadeira arte ou às verdadeiras ideologias, políticos brigam por poder e dinheiro distantes o quanto podem dos interesses da população que os elegeu, professores entram nessa ciranda política imunda etc.
Talvez, portanto, as modernas tecnologias, principalmente as digitais, mudem efetivamente as nossas vidas, mas... o quanto elas mudam o nosso coração (sem querer ser brega), o quanto elas nos fazem enxergar o que realmente tem valor? Acredito que todas as inovações tecnológicas são bem-vindas, e eu mesmo tenho me dado muito bem com muitos dos frutos delas. Anseio muito mais, no entanto, pela evolução espiritual e, apesar de usar este adjetivo, é justamente aí que discordo dos espíritas, aqueles mesmo da religião kardecista: se temos diversas vidas sucessivas justamente para aprimorarmos o espírito, por que nos desenvolvemos tanto tecnologicamente e tão pouco espiritualmente? Explico: por que usamos máquinas fotográficas digitais de 20 megapixels – muitas vezes sem nem saber o que isso significa – em detrimento de alavancas de ossos -, mas não conseguimos nada mais interessante para substituir as guerras, o preconceito, a ganância, a soberba, a indiferença, a fome e os conceitos de superioridade e inferioridade de um ser humano sobre o outro?